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A história e receita caseira do Bolo-Rei

Sabia que o Bolo-Rei já tem perto de 2 mil anos? Bom, pelo menos na origem… Conheça a história e a receita caseira do Bolo-Rei.

Bolo-Rei: história e receita caseira

Pormenor de mosaico do século VI representando os Reis Magos (Igreja de Santo Apolinari Novo, Ravena, Itália) – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Diz a história que teriam sido os três reis magos, Gaspar, Belchior e Baltazar a dar origem ao famoso Bolo-Rei, simbolizando os presentes que os magos levaram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: o ouro, a mirra e o incenso.

Representação da adoração dos Reis Magos a Jesus em relevo de sarcófago do século IV d.C. proveniente das catacumbas de St. Agnes (col. Museu do Vaticano) – A história e receita caseira do Bolo-Rei

De acordo com a simbologia, a côdea simboliza o ouro, as frutas, cristalizadas e secas, representam a mirra; e o aroma do bolo assinala o incenso. Certo é que o bolo, devido às frutas e à forma circular com um buraco no centro, aparenta uma coroa incrustada de pedras preciosas.


Depois, também a fava e o brinde, hoje em desuso alegadamente por questões de segurança alimentar, têm uma explicação tradicional. Segundo a lenda, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino.

Com vista a acabar com aquela discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava, para que aquele que a apanhasse fosse o primeiro a entregar o presente. A história não conta no entanto, qual dos três, Gaspar, Baltazar ou Belchior, foi o feliz contemplado.

Tradicionais brindes oferecidos nos Bolo-rei portugueses e a fava que, em alguns casos, ainda se mantém – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Até há bem pouco tempo, ditava a tradição que quem recebesse a fatia com a fava, teria de oferecer o Bolo Rei no ano seguinte. A fava, amaldiçoada pelos sacerdotes Egípcios que a viam como alojamento para os espíritos, é considerada o elemento negativo, representando uma espécie de azar.


Brindes miniatura metálicos usados nos bolos-rei em Portugal em meados dos anos 80 90 do séc. XX – Bolo-Rei: história e receita caseira
O brinde era colocado no bolo como forma de presente. Havia quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas cuja recompensa seria meia libra de ouro. Outros incluíam propositadamente as moedas de ouro na massa, como forma de agradecimento.

Com o passar do tempo o brinde passou a ser um pequeno objeto metálico de valor apenas simbólico e mais tarde, com as regras comunitárias, tanto o brinde como a fava acabaram por ser interditados.

Pondo de parte os mitos, e procurando uma explicação mais científica, os registos antigos demonstram que os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnália, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava, porque era escolhido usando favas para tirar à sorte.

Terá sido a Igreja Católica a relacionar este jogo, característico do mês de Dezembro, com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro).


Famoso quadro intitulado Gateau des Rois de Jean-Baptiste Greuze de 1774 – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como Dia de Reis, do qual ainda hoje em Espanha se mantém a tradição para a oferta dos presentes às crianças, em vez do dia 24 ou 25 de Dezembro, como é costume em Portugal.

Em tempos idos havia ainda uma outra tradição, a de que os cristãos deveriam comer 12 bolos-rei, entre o Natal e os Reis, festa celebrada na corte dos reis de França.
Rei Luís XIV da França 1638 – 1715 – A história e receita caseira do Bolo-Rei
É daí, de França, que surgem as primeiras evidências do uso do Bolo-Rei, da corte de Luís XIV. Vários escritores escrevem sobre ele, e Greuze celebrou-o num quadro, exatamente com o nome de Gâteau des Rois.

Curiosamente, devido ao nome e à conotação com a realeza, o Bolo-Rei foi proibido após a Revolução Francesa, em 1789, tendo os pasteleiros mudado o nome do bolo para poderem continuar a confecioná-lo.

Por cá, depois da proclamação da República, a proibição do Bolo-Rei esteve também prestes a acontecer, mas sem sucesso.

Exterior da Confeitaria Nacional em meados dos anos 30 – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Bolo-Rei: história e receita caseira
Pasteleiro e forneiro da Confeitaria Nacional colocando bolos no forno em 1931 – A história e receita caseira do Bolo-Rei

Publicidade da Confeitaria Nacional do século XIX e o seu tradicional bolo-rei – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Bolo-Rei: história e receita caseira
Exterior da Confeitaria Nacional na atualidade – Bolo-Rei: história e receita caseira
Tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu Bolo Rei em Portugal foi em Lisboa na Confeitaria Nacional, por volta do ano de 1870, bolo feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.

Publicidade do início do século XX da Confeitaria Cascais no Porto – A história e receita caseira do Bolo-Rei
No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890, por iniciativa da Confeitaria Cascais, feito segundo a receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.

Assim o Bolo Rei atravessou com êxito os reinados da rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D. Luis, D. Carlos e D. Manuel II. Com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 chegaram a Portugal os maus tempos para o Bolo Rei.

Devido ao nome, o bolo tinha que desaparecer ou então… mudar de nome.

A tradicional presença do bolo-rei na mesa de Natal portuguesa ao longo dos tempos – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Os menos imaginativos deram-lhe o nome de ‘ex-bolo rei’, mas a maioria chamou-lhe bolo de Natal ou bolo de Ano Novo. A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal, e também por estar relacionado com o país o que ficava bem em período revolucionário.

Não contentes com qualquer destas ideias, os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente e até houve quem lhe chamasse bolo Arriaga.

Mesa de Natal portuguesa com doces tracionais e a presença do bolo-rei – A história e receita caseira do Bolo-Rei
Daí até aos dias de hoje, o negócio dos bolos-rei alastrou das Confeitarias e Pastelarias aos super e hipermercados e hoje, qualquer boa mesa de consoada natalícia, não dispensa o famoso bolo que, apesar do nome, poderá ter consistências e sabores muito diferentes, consoante o local em que é produzido e as receitas que têm por base.

Receita de bolo-rei caseiro

O bolo-rei é uma presença essencial na mesa de consoada e no Dia de Natal. Este ano, por que não aprender a fazer o seu bolo-rei e surpreender toda a famíla? Além disso, assim, vai poder comer bolo-rei em qualquer altura do ano.

  • 150 g açúcar
  • 750 g farinha
  • 1 fava seca
  • 30 g fermento de padeiro
  • 175 g mistura de frutas cristalizadas
  • 250 g mistura de frutos secos
  • qb raspa de laranja
  • qb raspa de limão
  • 150 g margarina
  • 1 c. de sobremesa sal
  • 4 ovos M
  • 1 dl vinho do Porto
  • 1 ovo
  • 50 g açúcar em pó
  1. Pique as frutas cristalizadas e os frutos secos, tendo o cuidado de deixar de lado alguns para decorar o bolo. Misture tudo e deixe a macerar com o vinho do Porto.
  2. Dissolva o fermento de padeiro em 1 dl de água morna, junte-lhe uma chávena de farinha, misture bem, tape com um pano e deixe levedar em lugar quente durante 15 minutos.
  3. Bata a margarina com o açúcar, as raspas de limão e laranja, junte os ovos, batendo um a um, e o fermento.
  4. Quando tudo estiver bem ligado, adicione o resto da farinha e o sal, amassando até que a mistura fique elástica e macia. Junte as frutas e volte a amassar.
  5. Molde a massa em forma de bola, polvilhe-a com farinha e tape-a com um pano, deixando levedar durante 3 horas ou até duplicar de volume.
  6. Coloque a massa num tabuleiro e faça um buraco no meio.
  7. Introduza na massa um brinde à escolha (bem embrulhado em papel vegetal) e uma fava, deixando levedar mais 1 hora. Pré-aqueça o forno a 180º C.
  8. Pincele o bolo com a gema de ovo batida e enfeite toda a superfície com as restantes frutas cristalizadas e frutos secos.
  9. Espalhe o açúcar em pó em 4 montinhos por cima do bolo e leve ao forno durante 35 a 45 minutos.

Bom apetite!
Fonte: https://ncultura.pt/

Esparguete com molho de tomate e carne. Tão bom!

Pudim de fruta. Super saboroso.