Queijo Fresquinho, como se fazia no Alentejo…

Em cada manhã fria lá pela serra ou pela planície, quando o galo ainda cantava a medo e o orvalho brilhava nas giestas, já a leiteira estava de pé, de lenço na cabeça e mãos calejadas, a tratar do leite ainda morno das cabrinhas.

Esse leite, que vinha com cheiro a campo e carinho, era aquecido devagarinho no tacho de cobre. Nada de pressas — só fogo brando e alma paciente. Depois, vinha o truque das antigas: o coalho, que podia ser comprado ou feito com flor de cardo, como manda a tradição.
Misturava-se o coalho no leite morninho, com a colher de pau sempre em espiral lenta, até a mágica acontecer… o leite “talhava” e nascia o começo do queijo.
Com jeitinho, escorria-se o soro e enchia-se as formas furadas (como as da imagem), uma a uma, moldando os queijinhos com dedos sabedores, sem pressas nem medidas — só a olho e a sentir. Depois, um pouco de sal grosso por cima e o descanso em pano limpo.
Era assim que nasciam os queijos frescos do Alentejo: branquinhos, leves e com aquele sabor de pureza que se desfaz na boca.
Comia-se ainda húmido, com pão caseiro, doce de abóbora ou só com uma pitada de sal e orégãos.
📜 Receita Tradicional de Queijo Fresco Caseiro:
🧂 Ingredientes:
- 2 litros de leite de cabra (ou vaca, cru ou pasteurizado)
- 1 colher de sopa de coalho líquido (ou flor de cardo esmagada em água morna)
- Sal grosso q.b.
🔥 Preparação:
- Aquece o leite até cerca de 37–38°C (morno ao toque).
- Junta o coalho e mexe suavemente.
- Deixa repousar cerca de 45 minutos até formar a coalhada.
- Corta a coalhada em cruz com uma faca e espera mais 10 minutos.
- Retira o soro com uma escumadeira e coloca a massa em formas próprias para queijo fresco.
- Deixa escorrer o soro durante 1–2 horas.
- Salpica com sal grosso e, se quiseres, orégãos ou pimentão doce.
Serve fresquinho, com pão alentejano, e come-se como se fosse o primeiro — e o último — queijo da vida.
Foto de Cachopo, uma aldeia com história